DIA INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA - 3/12
O valor das coisas está na arte de dar.
E por mais singelas que sejam, se dadas com alma, apressam-se a chegar ao coração e é aí, que a riqueza e a grandeza, na sua reciprocidade, adquirem a sua verdadeira dimensão.
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Desenho da autoria do aluno Joaquim Palheirinho |
A PRENDA
O menino
recebeu a dádiva.
recebeu a dádiva.
Era o seu dia, assim disseram.
Estranhou:
os outros dias não eram seus?
os outros dias não eram seus?
Se achegou.
Espreitou.
Espreitou.
A oferenda,
era coisa nenhuma
que nem parecia existir.
era coisa nenhuma
que nem parecia existir.
– O que é isso?, perguntou.
– É uma prenda, responderam.
– É uma prenda, responderam.
Que prenda poderia ser
se tinha forma de nada.
se tinha forma de nada.
– Abre.
Abrir como
se não tinha fora nem dentro?
se não tinha fora nem dentro?
– Prova.
Como provar
o que não tem onde se pegar?
o que não tem onde se pegar?
Olhou melhor.
Fixou não a prenda,
mas os olhos de quem a dava.
Fixou não a prenda,
mas os olhos de quem a dava.
Foi, então:
o que era nada
lhe pareceu tudo.
o que era nada
lhe pareceu tudo.
Grato,
retribuiu com palavra e beijo.
retribuiu com palavra e beijo.
O que lhe ofereciam
era a divina graça do inventar.
era a divina graça do inventar.
Um talento
para não ter nada.
para não ter nada.
Mas um dom
para ser tudo.
para ser tudo.
Mia Couto
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