Um novo olhar sobre a
surdez
De uma forma simples e
muito genérica, podemos considerar pessoa surda aquela que sendo portadora de
um défice sensorial ao nível da audição, possui uma identidade, uma cultura,
uma história e uma língua próprias.
Por volta dos anos
setenta, emergiu uma nova forma de encarar a surdez, considerando o indivíduo
surdo como pertencente a uma comunidade linguística minoritária, pelo facto de
usar uma língua diferente da língua da maioria ouvinte. Assim, a conceção
antropológica defende como um dos seus pilares, o acesso dos surdos à Língua
Gestual, a sua língua natural, uma língua visual e espacial, equiparada à
língua oral no indivíduo ouvinte.
No contexto português
pode dizer-se que a problemática que se prende com a existência de uma cultura
surda é ainda recente. Só a partir da última década do século XX, a surdez
começa a ter uma visibilidade que ultrapassa a perspetiva redutora da
deficiência e toma em consideração a pessoa Surda como alguém diferente,
integrado numa minoria linguística e cultural.
Em termos educacionais
têm-se desenvolvido trabalhos de pesquisa e intervenção que aprofundam este
tema, a partir de enfoques como a inclusão escolar e a cidadania dos Surdos.
Para além disso, no âmbito da formação inicial e especializada de formadores
têm igualmente surgido iniciativas procurando desenvolver uma compreensão mais
complexa das realidades vividas pelas pessoas Surdas.
Numa escola inclusiva,
o que se propõe é que às crianças e jovens surdos sejam dadas oportunidades de acesso
à sua língua natural, assim a partilha da LGP -Língua Gestual Portuguesa- com
os seus pares, ouvintes, permitindo um intercâmbio mútuo de informação e, com
ele, uma melhor compreensão das diferenças e semelhanças entre pessoas surdas e
ouvintes. Ser-lhes dada oportunidade de ter um professor surdo que facilmente os
ajudará a criar a sua própria identidade, será também um aspeto importante a
considerar. O acesso a uma segunda língua, o português na sua modalidade
escrita, será uma disciplina a ser orientada com o rigor necessário para que
mais facilmente o aluno surdo possa ter, também, acesso à cultura da maioria.
Será ainda pertinente referir que os avanços nesta área se fazem sentir, mesmo
ao nível da escrita dos gestos, através do SW – Sistema de Escrita denominado
SignWriting.
Quando aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa…
A língua é parte de nós mesmos…Quando aceito a língua de sinais,
eu aceito o surdo, e é importante ter sempre em mente
que o surdo tem direito de ser surdo. Nós não devemos
mudá-los;
devemos ensiná-los, ajudá-los, mas temos que permitir-lhes
ser surdos…
(TERJE BASILIER, psiquiatra norueguês, 1993)
Dia Mundial do Surdo
O Dia Mundial do Surdo é comemorado por membros da comunidade
surda de todo o mundo no último domingo do mês de setembro, com o objetivo de
relembrar as lutas da comunidade ao longo dos anos, como por exemplo, as lutas
históricas por melhores condições de vida, trabalho, educação, saúde, dignidade
e cidadania, com especial destaque para o reconhecimento da Língua Gestual.
Há cuidados especiais a
ter em conta quando quer comunicar com uma pessoa surda:
·
Se
necessitar falar com uma pessoa surda chame a atenção dela tocando-lhe
levemente no braço ou acenando-lhe para que volte a atenção para si;
·
Enquanto
estiver a conversar mantenha sempre contacto visual, pois se desviar o olhar a
pessoa surda pode entender que a conversa terminou;
·
Posicione-se
de frente para ela, deixando a boca visível de forma a possibilitar a leitura
labial;
·
Evite
fazer gestos bruscos ou segurar objetos em frente à boca;
·
Fale
de maneira clara de forma a pronunciar bem as palavras, mas sem exagero, devendo
usar a sua velocidade normal;
·
Ambiente
claro e com boa visibilidade são fatores importantes para facilitar a
compreensão;
·
Sempre
que possível utilize recursos visuais;
·
As
legendas nos programas de TV e filmes, assim como os quadros com intérpretes de
LGP são importantes facilitadores da participação do surdo no contexto escolar
e social;
·
Os
avisos visuais são muito importantes para a independência do surdo;
·
Mesmo
que a pessoa surda esteja acompanhada de intérprete, dirija-se a ela e não ao
intérprete;
·
Se
não entender o que a pessoa surda fala, não tenha problemas em pedir para
repetir e, se necessário, escrever ou desenhar, pois o mais importante é que
exista comunicação.
Aida Pinto e Conceição Guisasola (Docentes de
Educação Especial do AEFJ)
Vídeo de uma atividade desenvolvida com alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico, experienciando a comunicação através da Língua Gestual
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