quinta-feira, 25 de setembro de 2014







 
Um novo olhar sobre a surdez


De uma forma simples e muito genérica, podemos considerar pessoa surda aquela que sendo portadora de um défice sensorial ao nível da audição, possui uma identidade, uma cultura, uma história e uma língua próprias.
Por volta dos anos setenta, emergiu uma nova forma de encarar a surdez, considerando o indivíduo surdo como pertencente a uma comunidade linguística minoritária, pelo facto de usar uma língua diferente da língua da maioria ouvinte. Assim, a conceção antropológica defende como um dos seus pilares, o acesso dos surdos à Língua Gestual, a sua língua natural, uma língua visual e espacial, equiparada à língua oral no indivíduo ouvinte.
No contexto português pode dizer-se que a problemática que se prende com a existência de uma cultura surda é ainda recente. Só a partir da última década do século XX, a surdez começa a ter uma visibilidade que ultrapassa a perspetiva redutora da deficiência e toma em consideração a pessoa Surda como alguém diferente, integrado numa minoria linguística e cultural.
Em termos educacionais têm-se desenvolvido trabalhos de pesquisa e intervenção que aprofundam este tema, a partir de enfoques como a inclusão escolar e a cidadania dos Surdos. Para além disso, no âmbito da formação inicial e especializada de formadores têm igualmente surgido iniciativas procurando desenvolver uma compreensão mais complexa das realidades vividas pelas pessoas Surdas.
Numa escola inclusiva, o que se propõe é que às crianças e jovens surdos sejam dadas oportunidades de acesso à sua língua natural, assim a partilha da LGP -Língua Gestual Portuguesa- com os seus pares, ouvintes, permitindo um intercâmbio mútuo de informação e, com ele, uma melhor compreensão das diferenças e semelhanças entre pessoas surdas e ouvintes. Ser-lhes dada oportunidade de ter um professor surdo que facilmente os ajudará a criar a sua própria identidade, será também um aspeto importante a considerar. O acesso a uma segunda língua, o português na sua modalidade escrita, será uma disciplina a ser orientada com o rigor necessário para que mais facilmente o aluno surdo possa ter, também, acesso à cultura da maioria. Será ainda pertinente referir que os avanços nesta área se fazem sentir, mesmo ao nível da escrita dos gestos, através do SW – Sistema de Escrita denominado SignWriting.

Quando aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa…
A língua é parte de nós mesmos…Quando aceito a língua de sinais,
eu aceito o surdo, e é importante ter sempre em mente
que o surdo tem direito de ser surdo. Nós não devemos mudá-los;
devemos ensiná-los, ajudá-los, mas temos que permitir-lhes ser surdos…
(TERJE BASILIER, psiquiatra norueguês, 1993)



Dia Mundial do Surdo

O Dia Mundial do Surdo é comemorado por membros da comunidade surda de todo o mundo no último domingo do mês de setembro, com o objetivo de relembrar as lutas da comunidade ao longo dos anos, como por exemplo, as lutas históricas por melhores condições de vida, trabalho, educação, saúde, dignidade e cidadania, com especial destaque para o reconhecimento da Língua Gestual.


Há cuidados especiais a ter em conta quando quer comunicar com uma pessoa surda:

·         Se necessitar falar com uma pessoa surda chame a atenção dela tocando-lhe levemente no braço ou acenando-lhe para que volte a atenção para si;
·         Enquanto estiver a conversar mantenha sempre contacto visual, pois se desviar o olhar a pessoa surda pode entender que a conversa terminou;
·         Posicione-se de frente para ela, deixando a boca visível de forma a possibilitar a leitura labial;
·         Evite fazer gestos bruscos ou segurar objetos em frente à boca;
·         Fale de maneira clara de forma a pronunciar bem as palavras, mas sem exagero, devendo usar a sua velocidade normal;
·         Ambiente claro e com boa visibilidade são fatores importantes para facilitar a compreensão;
·         Sempre que possível utilize recursos visuais;
·         As legendas nos programas de TV e filmes, assim como os quadros com intérpretes de LGP são importantes facilitadores da participação do surdo no contexto escolar e social;
·         Os avisos visuais são muito importantes para a independência do surdo;
·         Mesmo que a pessoa surda esteja acompanhada de intérprete, dirija-se a ela e não ao intérprete;
·         Se não entender o que a pessoa surda fala, não tenha problemas em pedir para repetir e, se necessário, escrever ou desenhar, pois o mais importante é que exista comunicação.
          
          Aida Pinto e Conceição Guisasola (Docentes de Educação Especial do AEFJ)


           Vídeo de uma atividade desenvolvida com alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico, experienciando a comunicação através da Língua Gestual









Sem comentários:

Enviar um comentário