E DEPOIS?
Vale a pena refletirmos sobre o papel dos currículos de cariz funcional desenvolvidos com alguns dos nossos alunos com Necessidades Educativas Especiais, designados por Currículos Específicos Individuais (CEI) e que têm por objetivo desenvolver habilidades que promovam o exercício de cidadania e a participação social.
E depois? Que futuro os aguarda?
Low
Brown
-Defensor de Currículos Funcionais
Departamento de
Reabilitação, Psicologia e Educação Especial da Universidade de Wisconsin - EUA
TVA
Extractos de uma
Conferência realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, no dia 12 de Junho de
2002
“… Quando nos perguntamos como é que vamos conseguir que alunos
com deficiências severas, ao saírem da escola, estejam preparados para
trabalhar no mundo real, sabemos que o ponto-chave, o nosso objectivo, o
resultado que queremos alcançar é que, ao sair da escola, eles tenham um
emprego que lhes garanta o ordenado mínimo e todas as regalias sociais normais.
Isso é o que queremos…”
“…O primeiro passo é o que chamamos de
"análise do meio laboral". Entramos num local de trabalho e
aprendemos de que trata o emprego que está em aberto. A seguir, tentamos
arranjar uma pessoa com deficiência que se adeqúe a esse emprego…”
“…Queremos que as empresas abram as
portas, por isso temos de aprender as especificações do trabalho e encontrar
uma pessoa com deficiência que se ajuste a ele. Se a combinação for boa,
perfeito; se não for, é terrível. A seguir, teremos de ensinar as tarefas
necessárias no próprio ambiente de trabalho. Não se esqueçam que estes jovens
não têm capacidade de generalização. O ensino tem a ver, sobretudo, com o seu
comportamento: levantarem-se de manhã, chegarem a horas, serem supervisionados,
comportarem-se apropriadamente durante as pausas, voltarem a seguir ao almoço,
tudo coisas que não aprenderam na escola…”
“…O que fazemos é pressionar muito os
pais para trabalharem connosco, colaborar no que chamamos “plano de futuro
pessoal”. É por isso que pedimos a todos os pais para fazerem uma lista dos
seus sonhos. Se disserem que querem um trabalho num banco, nós vamos a um
banco. Se disserem num hospital, vamos a um hospital. Se disserem que querem um
trabalho na Força Aérea, vamos à Força Aérea. Consoante o que nos disserem é
para onde vamos levar o seu filho, aos catorze anos de idade…”
“Esta é a Brenda e está
paralisada do peito para baixo. Trabalha em Madison, nos escritórios do City
Clerk. Recebem cerca de mil envelopes diariamente que têm de ser abertos.
Durante quantos anos um de vós conseguiria fazer isso todos os dias? Uma pessoa
normal tem uma taxa de erro, mas o que a Brenda faz é verificar duas vezes.
Para isso, coloca-os nos dedos e passa-os numa mesa de luz, se não tiverem
vazios devolve-os para serem esvaziados. Esta é uma das suas tarefas.”
“Este é o Larry e o trabalho dele é destruir papel. Ele é uma
pessoa muito lenta Se o sentarmos a fazer uma tarefa ele fá-la e depois
adormece, o que não é bom para a imagem dos trabalhadores estatais. O que
fazemos é sentá-lo uma hora e depois, na outra hora, vai destruir papel. E
assim, alternadamente, até completar oito horas de trabalho.”
“…O que acontece com estas crianças é que quando chegam a um certo
nível de complexidade, não conseguem aprender mais. Acontece o mesmo nos
empregos e, por isso, o que queremos fazer é encontrar algo com significado
dentro do seu nível de competência e, em vez de procurar um progresso de tipo
vertical, procurar um progresso de tipo horizontal, ou seja, aprender mais
coisas significativas, no mesmo nível de dificuldade. Este é o princípio que
utilizamos e note-se que funciona muito melhor em locais de trabalho que na escola.
Esta é uma das razões pela qual muitas pessoas com problemas de aprendizagem na
escola funcionam melhor em ambientes pós-escolares…”
“…Lembrem-se: o que fazemos é ir ao local de trabalho e ver o tipo
de trabalho que está a ser feito, por quem, por quanto dinheiro e que parte
dele podemos dar a fazer aos nossos jovens.
Por exemplo, uma mulher
está a trabalhar na sua secretária e acaba-se o toner da sua impressora, os
agrafos ou outro material qualquer. Ela levanta-se para ir buscar mais à sala
de economato. Nós observamos e tiramos notas. No caminho, pára para contar uma
anedota que hoje lhe contou a colega que lhe deu boleia. Demora talvez dois a
três minutos. Pára mais à frente, noutra secretária, para falar sobre cuidados
a ter com o cabelo, a seguir vai buscar o toner. No regresso passa por outras
secretárias onde fala sobre a avó de alguém que está doente. Para ir buscar o
toner, demorou meia hora. A seguir observamos outra pessoa no seu dia a dia no
local de trabalho…”
“…Quando temos toda a informação vamos falar com a supervisora,
aquela que está sempre a pedir ao Ministro mais pessoal. Mostramos-lhe o que é
que se está a passar e ela fica preocupada ao ver o tempo que se perde nessas
coisas. Dizemos-lhe para não se preocupar porque temos uma solução para o
problema. Assim, ensinámos a Joanne,
arranjámos-lhe um carrinho com as coisas que mais frequentemente se esgotam e
fizemos um pequeno álbum com imagens dos restantes materiais que podem vir a
ser precisos, que ficam guardados no armário do economato. Ela dá uma volta com
o seu carro de manhã, outra à tarde, perguntando às pessoas o que lhes faz
falta. A produtividade começou a aumentar e isso foi excelente. Nunca
explicámos aos empregados o que fizemos, porque o resultado seria passaram a
detestarem a Joanne, mas a Supervisora ficou muito contente…”
(…)
Professor Emérito
Lou Brown
University of Wisconsin at Madison
(Magda Padrão, Docente de Educação Especial no Agrupamento de Escolas Frei João de Vila do Conde)
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